DAVI SCATOLIN & MATHEUS KLEIM
JOGO $UJO
QUANDO ESPORTE, POLÍTICA E ECONOMIA DIVIDEM O CAMPO
Campeonato inglês, dinheiro árabe
Foto: Getty Images
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Etihad Stadium: a "invasão árabe" no futebol inglês aparece no nome da casa do Manchester City
Historicamente, os clubes mais conhecidos e celebrados do mundo costumam jogar em campos europeus, sendo as ligas inglesa, espanhola, italiana, alemã e francesa as mais assistidas e comentadas pelos fãs do esporte.
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A compra do Chelsea (clube inglês) em 2003 pelo bilionário russo Roman Abramovich é um exemplo proeminente de sportswashing na Premier League. Roman buscava ser reconhecido de forma positiva pelo “ocidente”, como uma espécie de mecenas ou incentivador dos desportos, afastando a imagem negativa de si e de suas conexões políticas russas, frequentemente associadas à violação dos direitos humanos.
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Outro caso notório envolve o Manchester City, clube que sempre fora considerado o azarão da cidade de Manchester, estando quase sempre à sombra do seu rival Manchester United. Isso começou a mudar em 2008, quando um grupo de investimento dos Emirados Árabes Unidos efetuou a compra do clube. De lá pra cá o City, como é chamado popularmente, vem alcançando inúmeros sucessos esportivos. Com tantos títulos, jogos brilhantes e gols, questões como os direitos humanos e a condição de trabalho de migrantes nos Emirados Árabes Unidos foram “jogadas para escanteio”.
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Francisco Pinheiro entende que muitos países e Estados têm despertado para a importância simbólica dos esportes. Nas palavras dele “há todo um conjunto de novos espaços geográficos, que claramente perceberam o impacto e a importância de ferramentas como a cultura e os esportes, sobretudo o futebol”. Essa importância se revela e se justifica nos massivos investimentos realizados nos últimos anos.
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O Newcastle é hoje o exemplo mais recente de sportswashing. O clube do norte da Inglaterra foi adquirido por um consórcio liderado pela Saudi Arabia Public Investment Fund (PIF), o fundo soberano da Arábia Saudita, e passou a investir pesado em contratações. A Arabia Saudita enfrenta desconfianças internacionais no que diz respeito a questões de direitos humanos, liberdade de expressão e liberdade feminina. O caso do desaparecimento e morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado Saudita em Istambul no ano de 2018 é apenas mais um exemplo que depõe fortemente contra a imagem do país.